Como trabalhar a educação midiática na escola
A educação midiática é um termo que está cada vez mais em pauta nas reuniões pedagógicas das instituições de ensino, mas essa não é uma proposta recente. A sugestão do ensino crítico das mídias e comunicações durante a formação dos alunos é um processo que começa nos anos 60.
Entretanto, é na era da informação (e da desinformação) que o assunto ganha urgência dentro e fora das escolas. Já não é mais possível ignorar a necessidade de uma alfabetização midiática.
Em um período com tanta informação circulando rapidamente, o tempo todo, torna-se necessário pensar uma educação que prepare as crianças para interagir com a diversidade de formatos de conteúdo e plataformas.
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Mal do século?
Você já ouviu o termo “fake news”? Já recebeu uma corrente em grupos de whatsapp? Já acreditou em uma matéria “jornalística” só pelo título da mensagem? Caiu numa propaganda sem perceber que estava sendo influenciado? E o pior: já compartilhou alguma informação sem checar?
Esse é um dos problemas dessa geração. Mas não se preocupe! Educadores, comunicadores, jornalistas e uma série de outros profissionais estão dedicados a estudar e apresentar ferramentas reais e eficazes para combater essas questões – a educação midiática é uma delas.
O que é educação midiática?
A educação midiática é um conjunto de competências que permeiam o ensino-aprendizagem com o objetivo de formar cidadãos com senso crítico, aptos a consumir, analisar e produzir conteúdo e informação na era digital.
Assim como o ensino está cada vez mais híbrido, com a tecnologia e a internet, o papel do consumidor de informações deixa de ser a ponta da comunicação. Hoje, quem consome conteúdo também critica, produz e seleciona informação – aqui está a potência e o perigo da comunicação atual.
Da mesma forma que a produção de conteúdo está mais acessível e democrática, e que o poder de criticar e ser ouvido se aproxima da população, a facilidade de desinformações circularem como notícia é gigantesca. É muita coisa sendo publicada o tempo todo e a gente precisa saber filtrar com qualidade.
Objetivos da educação midiática
O principal objetivo da educação midiática é formar uma geração com pensamento crítico e consciente, e com habilidades e ferramentas para consumir, analisar e produzir informação de qualidade em meio a um mundo sobrecarregado de informações. Além disso, espera-se que essas pessoas atuem socialmente, potencializando a participação social e enriquecendo os debates públicos acerca dos direitos cidadãos.
Eixos e habilidades da educação midiática
De acordo com o programa EducaMídia, do Instituto Palavra Aberta, a educação midiática tem 6 habilidades ancoradas em 3 eixos que compreendem todas as competências que os alunos precisam desenvolver para acessar, analisar, criar e participar do ambiente informacional e midiático. São eles:
Ler
É preciso saber ler criticamente as informações que chegam até nossas mãos. Quem escreveu? Qual a intenção? Por quais motivos escolheu determinadas palavras e não outras?
Habilidades: Letramento da informação e Análise crítica da mídia
Escrever
Somos todos produtores de conteúdo. Nesse sentido, precisamos ter autoria e responsabilidade ao nos posicionarmos, e fluência digital para usar as ferramentas de compartilhamento de informação.
Habilidades: Autoexpressão e Fluência digital
Participar
Os dois primeiros tópicos desencadeiam neste terceiro. O objetivo é ter formação crítica e responsável para atuar socialmente no compartilhamento de informações verdadeiras, combate ao discurso de ódio e desinformação.
Habilidades: Cidadania digital e Participação cívica
Quer saber mais? Baixe o Guia da Educação Midiática, desenvolvido pelo programa EducaMídia
A importância da educação midiática
É possível enquadrar a educação midiática em algumas competências da BNCC, o que torna o tema ainda mais relevante e urgente para os gestores escolares. É papel da escola preparar o aluno para uma sociedade digital, e é por meio desse conjunto de habilidades que as instituições conseguem dar os primeiros passos.
Agora, falando do ponto de vista das formação dos alunos e professores, listamos alguns tópicos que realçam a importância desse aprendizado na formação das novas gerações.
Vantagens da educação midiática:
- desenvolve o convívio saudável com a tecnologia
- estimula o senso crítico
- empodera o cidadão para interagir com conteúdos sem deixar as paixões afetarem sua leitura
- torna mais rico o debate público
- forma cidadãos conscientes
- potencializa a reflexão e o aprendizado das disciplinas
- traz temas e debates da atualidade para a sala de aula
- aumenta o acesso a informação de qualidade
- estimula o diálogo com novas vozes produtoras e disseminadoras de informação
- evita o compartilhamento de desinformações (fake news)
- reflete acerca da mídia e dos processos de produção da informação
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Educação midiática deve ser uma disciplina?
Não! Você não precisa reformular a grade de aulas dos seus alunos. O ideal é que a educação midiática esteja presente no debate de todas as disciplinas, seja estudando estratégias e técnicas de leitura e escrita, ou analisando o impacto da desinformação em diversas áreas do conhecimento, como nas ciências e na história.
Nesse sentido, existe um desafio nesse processo: integrar os profissionais de educação, preparando-os para compreender e transmitir esse conhecimento. Isso, porque serão necessários preparo teórico, capacitação tecnológica e desenvolvimento interdisciplinar da educação midiática.
Por onde começar?
Muita informação, né?! Mas sem preocupações! Existem dicas certeiras e iniciativas atuando para facilitar a inserção desse debate tão urgente para a educação.
1 | Invista na formação dos seus professores
O primeiro passo é gerar conhecimento e preparar sua equipe para atuar com a educação midiática. Embora os educadores sejam profissionais sempre atentos às demandas dos alunos, não espere que eles corram atrás dessa informação. É responsabilidade do gestor promover a formação continuada dos professores e, nesse caso, de toda equipe pedagógica. Com o conhecimento em mãos, é possível permear a educação midiática por todo o ensino.
2 | Conheça alguns projetos
Guia da Educação Midiática
Guia completíssimo feito pelo EducaMídia, com todas as informações que você precisa para promover uma educação que desenvolve as crianças e jovens para uma relação com as mídias. Confira aqui!
Jornalismo: Conhecer para defender
Websérie do Instituto Palavra Aberta com foco em explicar o processo de produção da notícia seguido por jornalistas. Esse material é essencial para combater a desinformação e a descredibilização que o jornalismo vem enfrentando. E o melhor: está pronto para ser compartilhado com educadores e alunos. Assista aos episódios aqui!
Me Explica, Vai!
Parceria entre o Instituto Palavra Aberta e a TV Cultura, a série é pensada para disseminar a educação midiática para jovens e crianças. Com linguagem acessível e episódios curtinhos, vale a pena assistir e passar para os alunos. Saiba mais!
3 | Leve para a sala de aula
Compare as fontes
Reflita com os alunos sobre as vozes presentes nos conteúdos que vocês consomem no dia a dia. Entenda o conceito de fonte. Levante perguntas: quem são as fontes usadas para a construção desse conteúdo? Existe diversidade de vozes e opiniões? Há mais espaço para uma versão do que para outra? O que a fonte ganha (ou perde) com sua fala/opinião? Por que jornais diferentes usam fontes e abordagens diferentes?
Como é feita a notícia?
Apresente para os alunos todo o processo de produção de uma notícia. Ouça jornalistas, entenda os conceitos de parcialidade, imparcialidade, verdade e fonte. Explique as linhas editoriais, a metodologia de apuração de um fato. O objetivo é ter olhar crítico para leitura de notícias, e valorizar o trabalho de quem nos informa diariamente.
Leitura crítica
Selecione conteúdos e comece a desenvolver uma leitura crítica daquela informação. Procure ler além do texto e das imagens.
Quem escreveu esse conteúdo? Com qual intenção? Existe uma empresa ou organização por trás desse texto/foto? A quem interessa essa notícia? Quem pode ganhar ou perder coisas com esse conteúdo? Existe alguma mensagem nas entrelinhas?
Insira a análise do discurso e a semiótica na leitura e interpretação das informações.
Comparando plataformas e formatos
Apresente para os alunos diversos formatos de conteúdo (notícias, artigos de opinião, crônicas, vídeos, podcasts, fotografias, stories, posts…) e as diversas plataformas existentes (jornal, revista, site, blog, mídias sociais, canais de streaming, canais no youtube, canais de televisão, rádio…).
O objetivo é mostrar como cada plataforma demanda um tipo específico de conteúdo e como determina a interação do consumidor com ela.
O papel da imagem no discurso
Uma imagem vale mais que mil palavras? Estude comunicação visual com seus alunos. Entenda o impacto de uma imagem para a interpretação de um título ou texto, e mostre como um conteúdo pode ter seu sentido totalmente distorcido com a simples alteração de uma fotografia ou vídeo.
Ensine sobre desinformação (fake news)
O que é desinformação? Por que chamamos de “fake news”? De onde surgiu o termo? Quem ganha (e o que ganha) com a propagação de mentiras? Qual o impacto desses conteúdos na sociedade? Como identificar uma desinformação? Esses são alguns tópicos que você pode trabalhar com os alunos durante uma série de palestras/debates.
Quer saber mais? Confira o episódio do podcast #HoraDeVotar, que explica e analisa o impacto da desinformação na democracia e no período eleitoral.
Mídia alternativa na divulgação de notícias
Crie um projeto para estudar a fundo os novos comunicadores. Existe uma diversidade de pessoas e projetos que visam narrar a história por outras perspectivas, com novas vozes, trazendo temas urgentes para o centro do debate.
Qual a importância da mídia alternativa (ou jornalismo independente) para a sociedade? Quem são os comunicadores comunitários? Quais são suas pautas? Por que eles têm menos voz que as grandes empresas de comunicação?
Quer dar o primeiro passo? Conheça um mapa colaborativo do jornalismo independente!
Como identificar propagandas
O tempo todo estamos cercados de produtos e propagandas. E, no mundo dos influenciadores, precisamos desenvolver um olhar crítico para não sermos enganados por campanhas publicitárias enganosas.
Já existem diversas medidas para que uma propaganda fique clara para o público – com as tags #ads e #publi. Mas até nossos desejos e vontades estão sendo respeitados? Que tal debater consumo ético e consciente com seu alunos? Que tal analisar as propagandas ocultas e visíveis nos sites e redes sociais?
Leitura crítica das redes sociais
Esse tema é delicado. Precisamos entender como funcionam e como nos afetam as redes sociais. Existe uma infinidade de possibilidades: crie um projeto anual, uma semana de palestras, um evento único, cinedebates…
O importante é aprender e questionar: Como funcionam as redes sociais? O que são algoritmos e por que eles moldam nosso comportamento? Nosso gosto pode ser influenciado por uma postagem? Onde as propagandas estão escondidas? Por que nos sentimos cobrados pelos padrões estéticos? Como usar as redes de forma saudável e respeitosa?
As linguagens digitais
Memes, abreviações, gifs… vamos falar de linguagem! Apresente para os alunos as variações linguísticas e expressivas presentes no ambiente digital. Você pode simplesmente inserir memes durante as apresentações das suas aulas, ou desenvolver uma atividade mais criativa ou analítica desse tipo de linguagem tão presente na internet.
Estamos mudando a educação!
É muita coisa! Nós sabemos. Mas é exatamente por conta da quantidade de informações que o novo mundo exige e apresenta para nossas crianças que precisamos repensar a educação, as metodologias de ensino, os formatos das aulas e os debates que damos ênfase. A educação midiática não será realidade de um dia para o outro na sua instituição, mas só de ler esse artigo, você já deu um passo muito importante.
Compartilha com a gente o que você tem feito sobre o tema na sua instituição!