Como promover uma educação antirracista na escola
A escola, ao lado da família, é um dos principais agentes na formação de um indivíduo. É nela em que os alunos serão apresentados à cidadania, a elementos que construirão parte de sua bagagem cultural e, sem sombra de dúvidas, à diversidade de costumes, crenças e de pessoas.
Por ser um espaço de troca de conhecimentos, socialização e aprendizado, a instituição de ensino tem impacto direto na vida de crianças, adolescentes e jovens. Afinal, o aluno muitas vezes passará mais tempo inserido neste espaço do que em casa.
Logo, é preciso trazer a diversidade racial para o debate entre a comunidade e a importância de uma educação antirracista na escola para garantir cidadãos conscientes, respeitosos, e que promovam a igualdade. Confira!
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O que é educação antirracista?
No Brasil, o racismo é estrutural e institucional. Nesse sentido, isso significa que mesmo estando presente em todas as esferas da sociedade (incluindo a escola), muitas vezes ele não é reconhecido ou identificado – seja por falta de conhecimento sobre o assunto e como lidar com ele, ou de forma intencional.
Contudo, quando a escola compreende o cenário apresentado acima, é possível começar a pensar em como a sociedade precisa se movimentar para trabalhar a desconstrução do racismo no ambiente escolar. E é aqui que começa o papel da educação antirracista: servir como método para acabar com o preconceito e a discriminação racial e preparar crianças e jovens para uma cidadania igualitária.
Mas por que ser antirracista?
Promover uma educação antirracista vai além de apenas repudiar o racismo (o que é extremamente necessário). Também exige construir caminhos práticos para transformar o modo de ensinar e para dar voz a pessoas e questões estigmatizadas. Lembre-se: não basta não ser racista, é preciso ser antirracista!
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Por que trabalhar o antirracismo na educação infantil?
A escola proporciona os primeiros contatos da criança com questões de cidadania e compreensão do mundo onde está inserida. Por isso, elas devem ser instruídas desde cedo para tratar outras pessoas de maneira igualitária e respeitosa, independentemente de sua raça e etnia.
Apesar dos termos (raça e etnia) serem confundidos, é preciso entender as sutis diferenças entre ambos. Enquanto a raça engloba características físicas, como cor a da pele de um grupo de pessoas, a etnia também leva em conta fatores culturais como a nacionalidade, a língua e as tradições.
O tema é complexo. Por isso, os impactos do racismo na formação da sociedade devem ser ensinados desde cedo, construindo caminhos e soluções que devem ser tomados dentro e fora das imediações da escola para que a discriminação não continue.
A escola deve ser uma referência
Enquanto gestores, é importante interpretar a vivência da criança no ambiente familiar. Converse com os pais para saber como a família lida com as questões da criança, especificamente, em casos onde o aluno se sente excluído pelos demais por conta da aparência e da cor.
Essa conversa é relevante, pois os pequenos podem apresentar mudanças repentinas de comportamento, ficando mais quietos ou mais agitados (oposto ao que geralmente são), entristecidos, pouco participativos, e omitindo seus sentimentos para os professores.
Também é preciso avaliar quem são os adultos próximos à criança no ambiente escolar. Pergunte-se quantos professores negros ou de ascendência indígena a escola possui. Muitas das vezes, os únicos funcionários não-brancos são pessoas quase invisíveis nos corredores. Esteja atento!
A escola precisa estudar muito sobre o tema e, preferencialmente, ter uma comissão de trabalho focada na questão racial. Esse grupo deve ser apresentado às famílias, tendo fácil acesso para dialogar com os pais e alunos, além de assegurar aos responsáveis as posturas que serão tomadas em casos de racismo.
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Insira a diversidade racial no dia a dia
É preciso ter uma equipe diversa e preparada para compreender questões como diversidade e racismo, e promover conversas sobre esses temas na escola.
Quando a criança é pequena, é necessário inserir referências de outras culturas para construir o chamado letramento racial, ou seja, fazê-la compreender o racismo na sociedade e por que ele deve ser combatido.
O que a escola pode fazer para promover uma educação antirracista:
Ter profissionais que sirvam de exemplo
É preciso compreender o racismo para que as crianças absorvam o quanto ele é inadmissível e reproduzam o que aprenderam nos outros ambientes sociais, como o meio familiar e os grupos de amigos. O antirracismo deve estar presente nas atitudes, no discurso e na postura de todos os profissionais da instituição de ensino.
Ser honesta
Se um aluno questionar as diferenças étnico-raciais, explique-o sobre as diferenças e que elas devem ser igualmente respeitadas. Mostre que todas as pessoas possuem altura diferente, peso, cor, etc.
Convidar os pais para o diálogo
Se uma criança apelida a outra na escola, ou faz comentários agressivos a respeito da cor de outra, a escola deve chamar a criança que cometeu a ofensa e explicar o por que esse tipo de atitude é incorreta. Em seguida, comunicar os pais para entender se o comportamento foi herdado ou não, a fim de dar continuidade ao diálogo em casa.
Em alguns casos, a família pode ter um posicionamento racista. Nessas situações, o trabalho demanda maior atenção e um posicionamento mais firme e incisivo, acionando os agentes da lei se for necessário.
Entender que não é uma fase ou brincadeira
A escola tem o dever de encarar os casos de racismo de frente, sem se omitir, pois situações do tipo não se tratam de uma fase ou brincadeira de crianças. O racismo, em qualquer idade, deixa graves sequelas na vida de quem o sofre e deve ser repudiado, afinal, É CRIME!
Apoiar os estudantes que forem discriminados
Se uma criança foi discriminada na escola, apoie-a. Existem leis que as protegem da discriminação e asseguram punições aos agressores. Casos de violência racial contra crianças devem ser denunciados por meio do conselho tutelar, delegacias de proteção à infância, ministério público e outros órgãos legalmente competentes.
Empoderar crianças negras
Durante a infância, é essencial trabalhar a autoestima e auto aceitação das crianças negras. Isso pode ser feito por meio da apresentação de filmes, desenhos animados e histórias onde os negros aparecem como protagonistas (como o longa-metragem Pantera Negra, por exemplo).
Além disso, os educadores em conjunto com os pais devem ensiná-las a amarem a própria pele, o cabelo e outras características físicas desde cedo.
Racismo e bullying não são sinônimos!
Apesar de muitas pessoas confundirem os dois , eles não são a mesma coisa. Entretanto, uma criança vítima de racismo pode, ao mesmo tempo, sofrer bullying. As principais diferenças entre ambos são:
Bullying
- Ocorre exclusivamente nas relações interpessoais, e revela desvios de comportamento
- Todas as crianças, independentemente da cor estão sujeitas a sofrer ou praticar
- Costuma ter origem no ambiente escolar, podendo (ou não) se expandir para fora dele
- Embora seja uma violência, não configura crime em seus estágios iniciais
Racismo
- É ideológico e estrutural, por isso existe o racismo institucionalizado
- Apenas crianças negras e indígenas sofrem o racismo, podendo ser vítimas também de bullying ao mesmo tempo em que são discriminadas em função da sua raça ou etnia
- Não possui uma localização específica, pois ocorre em todas as esferas da sociedade (incluindo a escola)
- É crime previsto na Constituição Federal Brasileira
Fale sobre consciência negra durante o ano inteiro!
Muito além do dia 20 de novembro, é preciso pensar e aplicar atividades durante todo o ano. A Lei 10.639/03, alterada pela Lei 11.645/08, traz a obrigatoriedade do ensino de aspectos históricos e culturais que formaram a população brasileira, assim como os estudos sobre cultura dos povos africanos e dos povos indígenas brasileiros.
Preparamos um artigo completo sobre consciência negra nas escolas, trazendo atividades para os professores promoverem durante todos os meses, garantindo uma escola mais inclusiva e respeitosa.
Gostou do artigo? Compartilhe com um educador e ajude a transformar a realidade das questões raciais dentro das salas de aula!