ENEM, uma variável estratégica

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O Exame Nacional do Ensino Médio – Enem – tem recebido um espaço crescente na mídia, com destaque para a sua operacionalização, para as constantes mudanças que têm sido colocadas em prática e para os seus resultados.

Temos desde mudanças na relação entre o Enem e os processos de seleção para ingresso em faculdades públicas, até denúncias de irregularidades na aplicação das provas. Do lado dos resultados, o ranking anual publicado pela mídia com base nos resultados por escola tem sido cada vez mais explorado.

O ganho de atenção que o Enem vem recebendo tem feito com que os pais de alunos estejam cada vez mais atentos a este instrumento de avaliação. Com isso, as escolas privadas têm se visto na obrigação de estar antenadas com as exigências e com os resultados do Enem.

Observando a retrospectiva da realização deste Exame, pode-se perceber que, na verdade, nem sempre foi assim – até porque não deveria, em tese, ser assim.

O Enem foi criado nos anos 90 pelo então ministro da Educação Paulo Renato Souza. O intuito era propiciar aos alunos uma avaliação objetiva de seus conhecimentos ao final do Ensino Médio.

A alteração mais relevante que foi feita na divulgação do Exame foi em 2005, quando o MEC decidiu divulgar as médias das notas por escola. Houve, então, uma mudança de viés na apuração do resultado do Exame: o que era um instrumento de avaliação dos alunos se transformou, também, numa avaliação pública das escolas. O objetivo dessa mudança não era a formação de um ranking, mas esse encaminhamento se tornou inevitável. De posse dos dados, a mídia rapidamente elaborou e divulgou os rankings.

Criou-se, no setor privado, uma ferramenta objetiva de avaliação que não existia antes. O setor, em geral, sempre resistiu à criação de metodologias de avaliação externa de seu trabalho. Na falta de um indicador criado pelas próprias escolas, o Governo acabou por criar um, ainda que involuntariamente.

Como o Enem se tornou um dos pouquíssimos indicadores objetivos de avaliação das escolas, ele acabou ganhando uma importância gigantesca no processo de competição que existe entre as escolas, dentro de seu mercado.

O Enem é um bom exame, mas está longe de ser um instrumento completo de avaliação do trabalho das escolas. São muitos os motivos para isso, mas três deles merecem um destaque especial: a) o exame não é obrigatório para os alunos, de modo que o ranqueamento é feito com base em uma amostra dos alunos de cada escola – o que, invariavelmente, distorce bastante o resultado, impossibilitando que o resultado final possa ser tomado como um ranking confiável; b) o Enem está longe de medir todas as habilidades e competências que são exigidas dos alunos quando do seguimento de sua carreira profissional, como liderança, trabalho em equipe e capacidade de expressão oral; c) as falhas na aplicação do Enem têm sido inúmeras, colocando, muitas vezes, sérias dúvidas sobre os resultados divulgados pelo MEC.

Essas imperfeições, porém, passam ao largo das análises do mercado. Como já descrito acima, a falta de outros indicadores objetivos de avaliação faz com que o Enem reine como se fosse a variável mais relevante na decisão por uma escola particular. Não é uma tarefa fácil, para as escolas, explicar para a sociedade que os resultados do Enem são importantes, mas não dizem tudo o que ela precisa saber.

Esse contexto todo explica a importância que a preparação para o Enem tem ganhado no trabalho pedagógico das escolas privadas. O mercado do ensino privado é extremamente competitivo. As escolas lutam incessantemente para preservar seus alunos e para atrair novos provenientes das concorrentes.  O Enem ganhou importância decisiva nesse jogo.

Cada posição no ranking divulgado pela mídia vale ouro. E essas posições são disputadas nariz a nariz. As diferenças que existem na distribuição do ranking são ínfimas. Nas primeiras posições, o espaçamento é um pouco maior. Considerando as 25 escolas particulares mais bem posicionadas na cidade de São Paulo no Exame de 2012 – o último divulgado -, a diferença média de pontuação entre uma escola e outra foi de 4,07 pontos – em uma escala de 0 a 1000. Saindo desse primeiro pelotão, a disputa fica ainda mais ferrenha. Do 26º ao 50º colocado, a distância média por posição é de 0,68 ponto. Do 51º ao 75º, de 0,57 ponto. E do 76º ao 100º, de 0,31 ponto. Lembrando: numa escola de 0 a 1000.

Cada posição ganha ou perdida representa efetivamente muito pouco o quanto de conhecimento foi absorvido em instituição. Contudo, o posicionamento no ranking tem uma importância muito grande na leitura que a clientela costuma fazer sobre o desempenho de cada escola. Essa dicotomia pode ser injusta, mas é real.

O remédio que as escolas têm aplicado contra esta dicotomia é justamente ter o maior cuidado possível com a realização do Exame. Também dentro de cada escola, a nota de cada aluno vale, e muito. Um exemplo prático: no Enem de 2011, uma escola ficou posicionada entre 30º e 40º lugar no ranking da cidade. Fizeram a prova 36 alunos formandos. Esta escola teve acesso à pontuação de 31 desses 36 alunos. Se o aluno que foi mais mal colocado não tivesse ido fazer a prova, a pontuação dessa escola teria melhorado em 20,6 pontos e ela teria subido 18 posições no ranking. Esse exemplo ilustra bem o quanto o resultado do Enem é sensível a pequenos detalhes mesmo dentro de cada escola.

Por todos esses motivos a preparação dos alunos para o Enem se transformou, em boa parte das escolas, em uma verdadeira operação de guerra. O Enem passou a ter um valor estratégico extraordinário para o sucesso das instituições.

Além dos procedimentos básicos, de acompanhar o conteúdo e avaliar os professores, as escolas têm – corretamente – recorrido a serviços especializados que fornecem informações valiosas a respeito do desempenho dos alunos na prova. O uso de recursos provenientes da evolução tecnológica permite que as escolas possam se prover de muitas informações e análises acerca dos resultados do Exame.

Existem, hoje, à disposição no mercado ferramentas que propiciam às instituições indicadores aprofundados de análise do desempenho dos alunos no Enem, permitindo a visualização das competências e habilidades que devem ser mais bem trabalhadas, por área de conhecimento, para que possam ser conquistadas posições no ranking. Iniciativas de empresas como Módulo Enem e Primeira Escolha são ótimos exemplos desse novo tipo de serviço. O uso de trabalho especializado e de ferramentas aprofundadas e amigáveis tem se mostrado uma arma cada vez mais poderosa para que as escolas possam enfrentar essa guerra de mercado. Numa disputa em que os diferenciais objetivos valem ouro, esse tipo de iniciativa é altamente recomendável.

 

Fernando Barão

WPensar em parceria com a Corus Consultores.